2 de mai. de 2006

Uns...

A chuva tem seus prodígios. Agorinha mesmo, pouco antes d’eu ligar o computador, meu bairro vivia um blecaute momentâneo, por algum pequeno acidente causado pela chuva, creio eu. Sem eletricidade para ligar seus aparelhos domésticos e, principalmente, a TV, as pessoas saíam à janela. Tão bonito de ver! Parecia cena do interior, todo mundo contemplando tão belo fenômeno pluvial, mera condensação do vapor d’água. Por um instante, a chuva revivia seus dias áureos, antes da comunicação de massa, e era campeã de audiência.
Diz Drummond, você há de lembrar, somos apenas uns homens. Parece coisa de ecochato, mas estas besteiras tão básicas põem a gente comovido prá cachorro. Como outro dia, quando um amigo e outro não-sei-quem jogavam na beira da praia. Eu olhando o mar, imensa, definitiva testemunha de nossa insignificância, a minha, a sua, a de toda a raça que se julga filha do deus-todo-poderoso, do criador de todo universo e nosso arquiteto e protetor. Eram apenas dois seres, num planetinha azul, pequenininho, numa galáxia pequenininha, com uma solzinho de quinta grandeza, representantes de uma raça com mais de cinco bilhões de iguais, jogando um jogo tolo baseado em bater numa bola de borracha de um lado para o outro, com duas raquetes de madeira. Um deles tinha um pouco mais de técnica do que outro, mas no que isso faz diferença. É ínfimo demais neste planetinha azul, que dirá em toda a galáxia.
Somos apenas uns homens e a natureza traiu-nos. O que temos de relevante é quase nada (só esta carga genética que nos diferencia). Mas somos a medida das coisas, eu e você. E olho o universo prá dentro, neste imenso mundo que chamamos identidade, subjetividade, alma. Aqui, todo dia eu faço fogo e destruo um planetinha qualquer para fazer uma nova estrela - talvez você pondere que não se fazem estrelas de planetinhas, mas reporte-se ao seu mundo. No meu, posso tudo. Neste universo, tão grande quanto o outro, você vive. E toda vez que olho para dentro, lá está você, com sua voz tonitroante. Cada palavra, cria uma montanha; cada significado arrasta miríades de corpos celestes.
Tu pairas sobre as águas e nem sabes que é deste mar que retiro o meu sal.

(carta escrita no início de 1997. Depois, criei outras deusas e as deixei passar, por que só eu mando no meu coração)

2 comentários:

  1. Anônimo00:56

    Hum... Tronitoante? Bonita palavra...

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  2. Anônimo00:57

    Hum... Tronitoante? Bonita palavra...

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Obrigado pelas palavras.