28 de nov. de 2008

Aline Rosset Rodrigues de Morais

Ela é minha prima. Quando pequena, magrela e sem jeito, eu a achava mimada, a garota que só comia nuggets, miojo, salsicha e mais umas duas comidas no mundo. Como sua mãe, conheceu seu marido na rua onde morava. Namorou oito anos, sempre o mesmo homem, e com ele se casou, um mês antes de completar 22 anos. O casamento foi lindo. Eu vi.
A menina magrela tinha virado uma mulher linda, mas não imaginava o quanto ela era bonita. Quatro meses depois do casamento, seu marido, um triatleta e personal trainner, foi atropelado andando de bicicleta na Rodovia Anchieta. Seu corpo foi arremessado longe, por um carro dirigido por um bêbado. Sempre o álcool nas tragédias.
Foi ali que pude ver que a beleza da minha prima não era apenas externa. Desde então, um ano e quatro meses se passaram. Ela continua do lado dele, em tudo, com todas as agruras, sofrimentos, esposa zelosa e devotada. Nestes momentos, vemos quem são as grandes pessoas no mundo.
Eu te admiro, Aline, como nunca imaginei que admiraria. Me enganei muito. Ainda bem. Tu és gigante. E me sinto até pequeno diante de ti.
Por isso, se os que lerem isso a encontrarem pela rua, ajoelhem perante ela, pois minha prima é um anjo. Toda aquela beleza externa se repete, de forma mais aguda ainda (como se fosse possível), numa alma que brilha.
Eu te amo, priminha, pelo ser gigante que você se tornou, comendo miojo, sabe lá Deus de que maneira.
A ti, amor, respeito e admiração.

25 de nov. de 2008

O amor não é um jogo

O amor, se fosse, seria um jogo estranho em que todos os jogadores perdem se jogam. Por que a conquista, o jogo de sedução, a invasão de um reino desconhecido, o desejo que se desperta no outro a fim de fazê-lo vir até nós, os óleos da cobiça e as fumaças da volúpia, nada disso é ainda amor. A paixão, vontade que se sente por uma projeção, é egoísta demais para ser chamada de amor.
A paixão é o esteio afetivo dos adolescentes, seres só menos egoístas que as crianças, mas já sem a mesma pureza. A febre dos 15 anos parece a erupção mais voraz do amor. Não é. É só a expressão primeira de um sentimento novo e intenso. Intensidade não é necessariamente amor. Intensidade é só um vetorial. Qualquer sentimento, até o nojo, pode ser intenso.
Amor pode ser intenso, mas vive do dia a dia, não das noites de verão, pois sua marca é a constância. Amor enreda planos, constrói respeito mútuo, admiração e desejo. Quando, por acasos ou descuidos, termina, ninguém vence. Todos perdem. Se no jogo da sedução, acabar um relacionamento é vitória, no amor é responsabilidade. A derrota menor acaba sendo de quem não teve que decidir, quem tentou evitar, pois parte sem culpa.
Assim seguem os amantes separados: ambos perdem, como no frescobol. É possível acelerar, aumentar a intensidade, colaborar ou ficar no limite, mas não faz sentido tentar forçar o erro do parceiro.
No amor, ninguém vence ao final do jogo. Vencer é continuar. Desejar, intensamente, as roupas de cama brancas sempre lisas, dia a dia, rotina previsível e indispensável. Apostar uma vida inteira e nunca jogar, nem mentir, nem enganar, nem dissuadir.Pois o amor só é um jogo na cabeça de quem não sabe amar, exceto a si mesmo.

19 de nov. de 2008

Eu não sou o superman

Ninguém é o superman. Ninguém pode, como Deus, mudar o curso da história, inverter a ordem do tempo. Para mortais, o que quebrou está quebrado. O passado não pode ser refeito. Paciência.
O superman tem poderes para de tudo cuidar e refazer seus erros. Os pobres mortais não. Têm que conviver com os erros do passado, sem poder consertá-los. No máximo, podem aprender e tentar refazer o futuro, este sim em constante mutação, conforme nossas atitudes no presente.
Já pensei que fosse o superman. Não aceitei meus erros. Tentei reescrever o que não podia ser reescrito, tentei controlar o que não me convinha controlar. Pulei de um prédio jurando voar.
É melhor aprender a suportar o passado, a perdoar os próprios erros. Não quero mais refazer nada. Só não quero nunca mais ser tentado por aquela capa vermelha que deixei no guarda-roupas, como lembrança dos dias em que achei ser o superman.
Eu não sei voar. É triste, mas resigno-me.

P.S.: Clique no link do título para ouvir "Superman".

10 de nov. de 2008

Ohana

De tudo, afastar-me de vocês, família, é o mais doloroso. E sei que, caso eu queira ou caso não, isso vai acontecer, gradativamente. Seria mais fácil não saber a dimensão das coisas, não saber o significado de tudo isso, mas sei. Vejo, mas não gosto do que vejo.
A vocês que estavam lá e me viram jurar amor eterno, saibam que assumi, naquele instante, vocês também como meu sangue. E de coração vos amo, pois amá-los é o mais simples, o mais fácil, o que menos confunde meu coração.
Os planos que fiz passarão. Não vou ter que brigar com ninguém para que não ensinem meu filho a comer McDonalds, nem terei mais discussões sobre política, nem tampouco faço parte do quinteto de corintianos. Não terei mais que “disputar” o seu amor de sogra, mãezoca. As festas cheias de gente vão ficar no passado, com o tempo. A gritaria, a mesa de baralho, a costela e as festas na chácara. Tudo que amo em vós vai se enevoar. Eu sei.
Se tudo fosse pouco, a forma como vocês me amaram já seria motivo para todas as lágrimas que derramei. Por vós, não por ela.
Sei que o tempo é senhor das curas, que meu coração vai se acalmar, que tudo ficará em mim, mas como a vida que vivi e que muito me ensinou. Outra virá e terei que respeitá-la. Outra família entrará em minha vida. E terei que me dedicar a eles também, pois amor é zelo e cuidado. Tudo vai mudar. Que assim seja, mas dói.
Talvez, por fim, me afastar seja o que me sobre, mas prometo, enquanto for possível, estar aqui e nunca mais abandonar. Ou esquecer.

8 de nov. de 2008

Às vezes jazz, às vezes blues

Uma manhã jazz tem sol ameno, mas só depois das 10 horas, para não me acordar muito cedo. E o dia passa, sem desespero, vida de improvisos e ritmo veloz, mas manso. A maioria dos dias é assim, às vezes menos calmos, mas ouço Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan e Billie Holiday quase sempre.
Uma noite blues não brilha, nem dentro nem fora, e gasto tempo a ruminar o que escapa ao meu controle. O ritmo desacelera e o tom é alto, agudo. Alguns dias são assim. E ouço B.B. King, Muddy Waters e Yardbirds.
Às vezes, os dias são jazz; às vezes, são blues. Mas amo tanto jazz quanto blues.

4 de nov. de 2008

Pelo direito supremo e inalienável a domingos de manhã

Que o tempo desacelere. Quem vive ao lado de alguém tem o direito supremo e inalienável a domingos de manhã. Tem direito a acordar sem pressa, merece toda preguiça do mundo nos dias de folga.
Que amar demanda tempo, demanda carinho entre gemidos, volúpia e força. Acelera e pára. Repousa e ofega, um após o outro ou vice-versa.
Nos domingos de manhã, o café na cama ou juntos, na mesa, não tem calendário nem agenda. O almoço pode ser tardio. O dia pode esperar. O sono é inútil, mas cochilos lânguidos são a lei.
Tenho desejo de domingos de manhã, de dormir cedo no sábado e não ter compromissos, pois há que se guardar os dias santos. E divino é o sexo.
Domingo não pecar é pecado.