19 de set. de 2009

Sejamos anjos

Sejamos anjos, então. Minha carne está impregnada de desejo, cobiço os intervalos em que sussuramos debates, no meio da noite, sobre vida e morte, mas sejamos anjos, se queres. Por que me basta, porque posso sublimar a sujeira do sexo, se me queres puro. Se me queres eu, posso parar de mentir e confessar: a lascívia é divina.
Sejamos só isso: absolutamente nada. Ao mesmo tempo, tudo, porque posso passar a noite ao teu lado sem desrespeitar-te. Mesmo que julgue que respeito por uma mulher como tu seja desejar-te o mais ardentemente possível. Mas respeitar-te-ei.
Por que amo conversar contigo e não fazer planos, porque posso não ter futuro contigo e mesmo assim adorar estar do teu lado. Sei que acreditas em destino ou karma, que Deus zela e que o demônio induz.
Deus me proteja, mas não fale aos meus ouvidos. Vou resistir e serei anjo, por mim mesmo.
Mas apenas se você for.
Se não for, me chame de Pan.

13 de set. de 2009

Me roubas

Me roubas, assim, no meio da noite. Tenho tanta coisa prá fazer, e me roubas assim, como se eu tivesse todo o tempo para me dedicar a ti. Quem me dera pudesse me deixar levar, como se fosses a correnteza. Mas tento me desvencilhar da tua imagem, da força das tuas águas, dos teus olhos que me fitam numa foto que já não consigo deixar de olhar. Já não posso mais roubar-me de ti.
Mas és nuvem, e depus a minha vida em ti. Quando cair, tanto pior, nem poderei chorar, porque sempre soube que és nuvem.

10 de set. de 2009

Tu reinas

O relógio calou.
Depois, vieram, sem movimento,
Horas de trauma.
O mundo, sem vento,
Estancou.

Cá, dentro de mim,
Dentro do universo onde reinas,
Benevolente e calma,
Sonho que reinas.
Enfim.

Julho/2008

5 de set. de 2009

Teu diário

Se um dia eu pudesse entrar pela janela aberta do teu quarto, na penumbra, como o vento, ouvir tua respiração e sentir teu cheiro enquanto dormes, parar algum tempo para proteger teu sono e, por fim, roubar teu diário, então poderia sonhar de novo.
E conhecer os teus segredos, desvendar teus planos, navegar teus sonhos. Saber tudo sobre você, o que te assusta e o que te acalma, o que você ama e o que odeia. Descobrir teus fetiches, os carinhos que você gosta e o que te faz sentir segura.
Então poderia ser tudo o que você quer, te dar segurança, libertar tua fêmea, teus desejos ocultos, tua volúpia e feminilidade de mulher, te dar conforto e calor, te arrastar pelas estradas (para os lugares sonha conhecer), fazer da tua vida uma eterna viagem.
Só assim, depois de tanto, poderia ter o que mais me faz falta: tua respiração, teu cheiro, teu sono. Poderia roubar, na penumbra, como o vento, o teu coração.


São CAetano do Sul, 10 de fevereiro de 1996
14:00 horas