Há um poema que atribuem a Borges que diz:
Se eu pudesse viver novamente a minha vida,
trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito,
seria mais relaxado.
Seria mais bobo do que fui;
na verdade encararia muito poucas coisas com seriedade. (Instantes)
É sábio, seja de Borges ou não (talvez, para ele próprio, esta não fosse uma questão relevante). Mas viver assim, levando a vida menos a sério, nem Borges conseguiu. Meus problemas de hoje me espantam, me assustam, me amedrontam. Amanhã, rirei deles, como rio das minhas preocupações de criança. Nenhum problema é pequeno demais se quem tem que enfrentá-lo o teme. Por isso, não menosprezo as dificuldades de ninguém. Cada um tem as suas dores; cada um tem seus problemas gigantescos.
Nada causa mais problemas irreais que os relacionamentos amorosos. Qualquer coisa, se vem do ser amado, é imensa. Qualquer sinal é uma tempestade. Nunca erramos tanto quanto quando estamos enamorados. E nada causa mais alegria ou tristeza.
Viver como na poesia permitiria sorrir mais, levar os amores menos a sério. Mas quem está no meio da vida não tem idéia de como vai rir de tudo aos 85 anos, idade de Borges, quando escreveu Instantes, se é que o escreveu.
O amor traz desgraças de fim de mundo e, nestas horas, é bom achar algo para te fazer rir. Pessoas, se possível. Há, sim, seres humanos que são tão especiais que fazem o poema parecer mais real, mais possível. Cada um tem os seus escolhidos, seres que são como potinhos de felicidade. Do lado destes seres, o mundo parece mesmo mais leve.
O amor não é mau. Por vezes, ele nos pega e passamos a amar quem até pouco tempo nem sabíamos existir. E quando este ser vai embora, sua ausência, que nunca antes tínhamos sentido, passa a ser pesada, dura. Barthes chama isso de presença de uma ausência. Não conheço definição melhor. Nestas horas, é preciso diminuir os problemas, achar quem nos faça sorrir. Rir de nós mesmos, dar menos valor às angústias e tentar respirar. Ler Borges, como um mantra.
Tem dias que chove. Chove muito, uma chuva linda e triste. Nos dias de chuva, às vezes surge um arco-íris. Nunca acreditei no pote de ouro no fim do arco-íris. Mas foi nos piores dias de chuva que encontrei um potinho de felicidade.
Há um limite para as paixões humanas quando elas provêm dos sentimentos, mas não há limite para aquelas que sofrem a influência da imaginação.
ResponderExcluirAs vezes não abandonamos sentimentos pura e simplesmente por apego, ou por aquilo que eles significam pra nós e não pelo que são na verdade. Jorge Luis Borges simplificou as coisas no seu poema, enquanto nós seguimos complicando. Abraços!