Sento na cadeira, depois do banho, cabelo molhado e samba-canção de seda, e fico a pensar-te. Nesta hora em que o dia fica calmo, a mente já não se ocupa de afazeres tais que a distraem de ti. E volto, como sempre volto, a pensar em você. Não, assim, como uma imagem de santa, uma epifania. Mas como uma mulher sem matéria, sem cheiro, sem corpo, mas que sei existir. Por isso insisto.
E da tua imaterialidade nestes lugares por onde ando, vou tecendo história, planos, momentos, vida a mim legada e contigo dividida. Vou te imaginando em cada pequeno detalhe. Vou calculando suas reações.
- Será que ela gostaria?
- Será que ela riria?
- Será...
- Será...
E de "serás" vou vivendo ao teu lado.
Tudo isso, pela impossibilidade do beijo. Pois se o beijo fosse possível, então eu teria-te, mulher com corpo, cheiro e matéria. E se o beijo fosse negado, então partiria, assim, como quem parte sem corpo, sem cheiro, sem matéria.
O beijo é um passaporte, uma ponte, uma aliança. É, de certa forma, um consentimento aos exageros do amor. É uma garantia. O beijo é poder dizer, nos teus ouvidos, atrocidades como: "nunca mais te deixarei partir".
Sem o beijo, ainda não há nada.
Todo o meu cortejo, as estratégias de conquista, as flores, as cartas, as palavras medidas ainda não atingiram o objetivo pensado. Até lá, vivo esta angústia. Até lá, planejo o momento do beijo possível. Cobiço tua boca delicada, tua voz nos meus ouvidos, tua mão na minha.
(carta escrita em 1997)
Maravilhoso seu texto Mário!!!!! Gosto quando vc escreve assim, nada intelectualizado demais, nem politizado demais, apenas visceral... e doce. Beijos, se cuida!
ResponderExcluirTá, tá.... já entendi. Eu sempre gosto dos textos antigos, talvez porque revelem uma fase mais amena.
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ResponderExcluirUm doce bju pra vc!
ResponderExcluirBeijo, uma das melhores coisas da vida!
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