14 de ago. de 2006

Da distância

Chove! As gotas batem na minha janela, fazendo um burburinho bom para ficar debaixo das cobertas e essas coisas gostosas que a gente pode fazer em casa, em nenhum outro lugar. As gotas escorregam pelo vidro, vão se juntando, numa previsível marcha. Miro-as.
Não sei por que, mas estas coisas botam a gente emocionado prá diabo. Acho que é esta mania de pensar em como seria bom se você estivesse aqui.
Chove! Quero cobertor, teu colo, teu rosto colado ao meu, tua boca, teu corpo quente. E, você, impassível, não sente, não vê, não mede a saudade que sinto, o espinho que carrego. Vem me embalar, cumprir, por fim, minha sina de estar indefeso em suas mãos, criança que cresceu e que ainda chora com cenas bregas de amor rasgado. Vem respirar o ar que respiro, tornar momentos patéticos instantes grandiosos.
Das desgraças do amor, a distância é das mais severas. E, no entanto, viver com tal fardo é que faz os escassos segundos em sua presença tão importantes.
A perspectiva de futuro não é muito diferente disso. Por muito tempo, se tudo der certo, te verei em fins de semana e nem mesmo em todos os sábados e domingos. De certa forma, é ruim. Mas pode nos ajudar a amar, mais e mais, estarmos juntos.

(carta de 1997)

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