29 de jun. de 2006

Ensinem as meninas

Há um diálogo impressionante em Closer – Perto demais, em que o personagem de Clive Owen diz que as mulheres não entendem a guerra por que elas são o território. Não por acaso, o texto é acompanhado por imagens de uma boate. Na balada, esta lógica, que as mulheres não entendem, é evidente. Abordar uma garota é um procedimento de guerra, cheio de preparativos até a missão diplomática e a invasão do país alheio.
A conquista da fêmea pelo macho é um jogo de sedução, cheio de protocolos, estratégias e conjunturas. Na adolescência, o jogo, por vezes, tem requintes de crueldade. Há mulheres que se especializam em atrair os homens para poder rejeitá-los, como se o importante fosse ser desejada. E ponto.
O jogo tem mudado, é verdade. As mulheres estão menos passivas. Começam a assumir isso como um direito de fêmea, abordam os homens, dão o primeiro passo no jogo. Não entendem a guerra, mas participam dela. É um avanço no comportamento? Longe disso. As mulheres não questionam o comportamento dos homens, apenas o repetem. A corte (a conquista cortejando as mulheres) é um avanço em relação ao tratamento da mulher como bem de posse, transmitido do pai para o noivo ou, antes disso, como parte dos despojos de conquista. Violentar as mulheres, como nas guerras medievais, tomá-las à força já não é um comportamento aceito. É crime.
Olhamos para o passado como bárbaro, irracional e opressor das mulheres. Não vemos, porém, o tipo de opressão que a corte impõe sobre ambos os sexos, mas, sobretudo, não vemos as armadilhas impostas às mulheres. Os homens, na competição com seus pares, têm a conquista como régua da masculinidade. Eles se gabam entre si das fêmeas que levaram para a cama, fazem contas, placares. Valorizam a variedade e a intensidade da conquista. Em outras palavras, é mais macho quem come mais mulheres.
Por trás deste comportamento reside um machismo indisfarçável, mas poucas vezes percebido. A conquista pressupõe o conquistador (homem) e o território conquistado (mulher); a caça e o caçador. Nenhum país pode ter dois governantes, mas um governante pode ter diversos países. Os homens agem assim. Conquistam, pilham, partem para outro. Valorizam, entre si, a multiplicidade de parceiras, as conquistas, sinal de virilidade. As mulheres são censuradas por se comportarem assim, muitas vezes pelas próprias mulheres. Um caçador pode ter várias presas. As presas não podem ser caçadas por vários caçadores.
Ensinam as meninas a se comportarem assim e a defenderem a monogamia, o amor eterno. Ensinam a elas o que é mais conveniente aos homens. Para eles, a poligamia não é censurada. Pelo contrário, é enaltecida. A revanche vem, como hoje, pela repetição do comportamento. Os homens, agora, são objetos de conquista, mas as mulheres têm muito mais pudores com a variedade. Envergonham-se se agarram mais que um menino numa noite ou se mantêm vários amantes ou são censuradas por isso. Esperam que o homem se aproxime. Isto jamais é visto como machismo, mas é. A passividade na conquista é a passividade na relação.
Mas as mulheres não percebem. Por isso, defendem o modelo de casamento monogâmico atual, não fazem acordos com seus parceiros. Implicitamente, o modelo está dado: ela, romântica, deve preservar-se fiel; ele, nem tanto. É um completo otário se o fizer. As mulheres, no entanto, continuam crentes e defendem este modelo. São ensinadas assim desde pequenas, quando ganham bonequinhas para ficar em casa, enquanto os meninos ganham carrinhos, signo de liberdade de movimento, de autonomia. São educadas para não ver. E não vêem.

4 comentários:

  1. Anônimo11:01

    Achei esse seu texto um tanto machista. Verdadeiro em algumas partes...
    Parece estar com medo da mulher...

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  2. Anônimo13:40

    Você deve estar se referindo somente as mulheres com quem você
    se relaciona. Vc precisa conhecer outros mundos, mulheres de verdade... abra os olhos, elas podem estar mais perto do você imagina!

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  3. Anônimo04:02

    Achei bastante contundente alguns de seus apontamentos. Mas, como homem, creio que para vcs. seja um pouco complicado falar sobre o comportamento das mulheres sem assumir determinadas posturas que estão ligadas mais às suas observações e experiências do que a uma análise mais aprofundada sobre questões de genêro. Creio que este tipo de análise é essencial a quem se propõe a fazer um "ensaio geral sobre posturas femininas", embora ao meu ver você chegou quase lá. Concordo no ponto em que vc. comenta sobre as diferenças na educação entre homens e mulheres, que sem dúvida, afeta profundamente nossas atitudes e comportamentos, bem como toda essa herança histórica da analogia da masculinidade ao padrão do guerreiro, ou do caçador, enquanto a fêmea é passiva. Você admite que houve avanços neste padrão cultural, as mulheres conquistaram seu (relativo) espaço e algumas comportam-se como "homens", embora a maioria continue reproduzindo o machismo de nossa sociedade. Ora, assumir o esteriótipo do macho não representa avanço nenhum ao meu ver. O problema é assumir a masculinidade como padrão universal, como se a feminilidade fosse uma ofensa, ou um grave defeito. Neste ponto, acho que isso foi um dos maiores problemas do feminismo. Claro que o desenvolvimento histórico de nossa cultura reservou vários atributos interessantes ao masculino em detrimento do feminino, mas acredito que o ideal seria pensar em homens e mulheres como "seres humanos" dotados das mesmas potencialidades (para o bem e para o mal), destruindo os esteriótipos e os binarismos. Além disso, para os homens, é muito fácil cobrar mais atitude das mulheres quando estes não estão na "sua pele", quando não sabem as conseqüências que estas sofrem ao assumir determinadas posturas que não vão de encontro ao que é esperado. E, no mais, são apenas algumas décadas de emancipação feminina, poucos passos para destituir por completo um longo processo histórico de subordinação. Infelizmente, tem muito para se avançar, portanto não coloque a culpa da permanência do machismo nas próprias mulheres, pois, nós fazemos parte desta mesma cultura, é difícil não reproduzí-la, mas existem muitas que lutam contra isso, e muitas vezes, não são compreendidas...

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  4. Pode ser que sejamos educadas para não ver, mas não são todas que continuam cegas. E pra falar bem a verdade, atualmente, essa parte da "conquista do território", está sumindo, infelizmente tudo acontece tão rápido, tão fácil, tão, tão sem graça.

    Beijos

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Obrigado pelas palavras.